domingo, 13 de julho de 2008

Caos A.D - terror no centro 1

“Centros são locais propícios para a ocorrência do caos”


Centro de São Paulo. Frio, atmosfera pesada e cinzenta. Ruas imundas com mendigos, o ar de poluição, o cheiro acre letal. Crimes diante dos nossos olhos. Excesso de cores, formas e sons... ainda assim, não nos importamos.

* * *

31 de dezembro, quarta feira às 23h21min – Nina e Vitão caminham rumo ao ponto de ônibus passando por avenidas movimentadas onde pessoas distintas se acotovelam em meio a sussurros, conversas internas e – quem sabe – conspirações?!

Vitão é tranqüilo, pisa cada passo milimetricamente, leve, calmo. Nina não pára de falar atropeladamente com sua voz infantil e agitada, gesticulando, sem se importar com o interlocutor, em espécie de monólogo acalorado demais, até. E ele ouvia (talvez atento, talvez distante, mas sem oscilações de fisionomia ou comportamento).

Meia hora depois chegou o ônibus, lotado como esperado conforme o horário. Quando o transporte parou e os jovens adentraram sendo, ocasionalmente, empurrados na selvageria urbana, o ‘salve-se quem puder’, evocação da lei da sobrevivência.

Por hora, Vitão continuava compassivo e começava a suar feito um porco por baixo da roupa. A região em volta do cabelo melava, mas ele continuava o mesmo.

O empurra-empurra cessou, Nina e Vitão embarcaram. Ela não parava de falar; ele permanecia o mesmo... será que ela não notava?

Todos acabaram por acomodar-se. Querendo ou não, nós pertencemos à fauna urbana e, por tal, estamos habituados a tudo isso... e muito mais

* * *

Estavam no meio do percurso. Lá fora estava frio. Vitão suava torrentes naquela lotação. “Ele não se altera?”

Maldita freada, maldito pé que sobrepôs o calçado 44 do Vitão fomentando algo no interior dele. Seu olhar eletrizou de súbito - Nina falava - as mãos úmidas apertavam gradativamente o ferro e Nina continuava falando.

- Você... vai... morreeeeeer!! – berrou Vitão até que chegasse ao seu máximo: sacar uma tremenda uzi da sua mochila.

Até então, todos estão cercados em seus próprios pensamentos. O ônibus parou no semáforo e, no mesmo átimo, Nina gritou: NÃO VITÃO, NÃAAAAAO!”e abaixaram, todos fizeram o mesmo, mas ele descarregou a arma nos indivíduos, de modo que, de fora, era possível ver uma torrente, espécie de tempestade de sangue brotando, esguicho rubro que alcançava os automóveis e o asfalto aos lados... um funesto espetáculo...

...A sangria que culminara em nada. A garota foi puxando o amigo para fora do veículo. Sem vestígios de sobreviventes, sem provas. Mas longe de ser um crime limpo.

* * *

Aquele olhar sombrio, brilhante e elétrico extirpou-se. Ele voltara a calmaria habitual, ao mutismo e à introspecção ferrenha. Quanto à guria, estava pulsante, as roupas novas chamuscadas de sangue, lado-a-lado dele que parecia ter sido banhado numa poça de sangue.

Voltaram para casa dele andando, Nina incansável, frenética e Vitão o mesmo.

-Como você fez aquilo? – indagou Nina

- Ainda quero comer pizza.

-Você anda estressado, sabia?

E caminharam ‘tranquilos’ noite adentro...